Enfrentamos hoje um dilema que afeta profissionais de todas as áreas: o equilíbrio entre as habilidades humanas e as da Inteligência Artificial.

Após o lançamento do ChatGPT no ano passado, quem atua com marketing, publicidade e afins passou a perceber esse embate com bastante intensidade na área: a tecnologia avança em ritmo acelerado, proporcionando ferramentas espetaculares, mas, por outro lado, ao mesmo tempo, levantando questões cruciais sobre o papel humano nesse contexto.

A Inteligência Artificial é uma das tecnologias com maior poder de transformação, e quanto mais poderosa se torna a tecnologia, mais sofisticados precisamos ser para usá-la.

Encontrar o equilíbrio entre humanos e máquinas torna-se, assim, imprescindível – não apenas para profissões e negócios, mas também, e principalmente, para garantir a sustentabilidade da vida humana, mantendo-nos relevantes na nossa jornada para o futuro.

Portanto, precisamos afinar a nossa relação com a tecnologia de forma simbiótica, deixando que ela faça aquilo que faz melhor, e aquilo que ela não faz, fazemos nós.

Desse modo, cada parte contribui com o seu melhor e otimizamos cada vez mais a nossa atuação no mundo utilizando o máximo potencial tanto da tecnologia quanto das nossas competências.

Nesse sentido, logicamente existem várias habilidades humanas que complementam a tecnologia, no entanto, dentre todas elas, uma se destaca, pois em meio à complexidade em que vivemos, ela nos oferece direção e permite que saibamos como usar adequadamente todas as nossas demais potencialidades: o pensamento crítico.

Quanto melhor for o pensamento crítico, melhores serão as análises que fazemos e, consequentemente, as decisões que tomamos. É ele que nos habilita a questionar para buscar as melhores soluções, avaliar resultados e situações, ponderar valores humanos. Ele atua como o nosso sistema operacional, que embasa o funcionamento de todos os outros nossos sistemas.

No entanto, diferentemente da inteligência biológica, que já nasce com a gente, o pensamento crítico, para existir, precisa ser educado, instalado, aprendido, refinado ao longo de toda a nossa vida.

Se compararmos o nosso cérebro a um computador, a inteligência seria a capacidade de processamento, a força bruta, mas que não obtém resultados sem a instalação de um sistema operacional adequado. O pensamento crítico é esse sistema, cujos resultados serão tão melhores quanto melhor ele for.

O pensamento crítico determina O QUE fazemos e COMO usamos a inteligência. É ele que busca e analisa os dados para a inteligência processar, é ele que avalia o resultado do processamento e realimenta a inteligência para repensar e refinar os processos.

Portanto, é o pensamento crítico que nos conduz ao melhor uso de qualquer coisa, pois é por meio dele que conseguimos pensar para tomar a decisão mais adequada para cada situação.

Por exemplo, posso ter o carro mais poderoso do mundo, mas se eu não pensar criticamente para dirigi-lo, não saberei escolher caminhos, avaliar velocidade em cada etapa, maximizar o combustível ou até mesmo avaliar se não é melhor usar uma bicicleta ou até mesmo ir a pé, dependendo da situação.

Com a IA ocorre o mesmo: para obtermos o melhor resultado da nossa relação com ela, precisamos de pensamento crítico. Quanto melhor ele for, maior a inteligência que extrairemos da nossa simbiose com ela.

Desenvolver o pensamento crítico, no entanto, não é uma tarefa fácil – é uma jornada multifacetada, fundamentada em diversas disciplinas. Por outro lado, quando bem compreendidas e aplicadas, elas contribuem para uma mente analítica e questionadora. Essas disciplinas estruturam o pensamento crítico em cinco pilares principais.

  • O primeiro é o questionamento, um exercício constante que estimula a curiosidade e a busca por um entendimento mais profundo de tudo.
  • O segundo é busca por superar vieses cognitivos, constantemente desafiando preconceitos e permitindo uma visão mais imparcial dos fatos.
  • A persuasão racional é o terceiro pilar, essencial para conseguir comunicar ideias de maneira clara e fundamentada, estimulando não apenas a argumentação sólida, mas também a receptividade à divergência de opiniões.
  • Repertório é a base do pensamento, o quarto pilar, que se refere à construção de um vasto conhecimento, proporcionando a infraestrutura necessária para avaliações críticas ancoradas em informações sólidas.
  • Por fim, os valores humanos constituem o quinto pilar, balizando com ética o processo de tomada de decisões e o julgamento crítico.

Investir, portanto, no desenvolvimento do pensamento crítico não é uma opção, mas uma necessidade para qualquer profissional da área de marketing – é a estratégia mais eficaz para se manter relevante e inovador em um cenário impulsionado pela tecnologia, permitindo não apenas se adaptar às mudanças, mas principalmente, liderar a narrativa, transformando desafios em oportunidades.

Martha Gabriel é professora referência em inovação e tendências no Brasil, futurista pelo Institute for The future (IFTF/EUA) e autora do best seller Liderando o Futuro: visão, estratégia e habilidades (DVS Editora).

source
Por Metrópoles

Ouça a Rádio Piranhas FMRádio Piranhas FM pelo RadiosNet. #OuvirRadio