As primárias argentinas, que se realizam neste domingo (13), são consideradas um bom termômetro para as eleições de outubro, já que o voto é obrigatório. Entretanto, há incertezas sobre como os votos se deslocarão de quem perder a disputa entre os candidatos da frente de oposição Juntos pela Mudança: Patricia Bullrich, de direita, e Horacio Rodríguez Larreta, de centro.

“A discussão na segunda-feira vai ser a interpretação dos números”, prevê Guillermo Rodríguez Conte, diretor da Reportesud Consultores, de Buenos Aires. “Como se devem interpretar? Por candidato ou por força política?”

Levando em conta o perfil ideológico dos candidatos, Larreta está mais próximo de Sergio Massa, o ministro da Economia do atual governo de esquerda. Mas, levando em conta as alianças, Bullrich e Larreta, que concorrem pela mesma chapa, somariam muitos votos: cerca de 32%, com 16% para cada um, segundo pesquisa do instituto Opina, e 34%, com 18% para Larreta e 16% para Bullrich, de acordo com sondagem da consultoria Management & Fit.

“A questão é se o vencedor dentro de Juntos pela Mudança consegue os votos do vencido”, pondera Rodríguez. “Como Massa é ideologicamente similar a Larreta, uma hipótese é que parte desses votos mude para Massa e não para Bullrich.”

Argentina terá eleições primárias no domingo

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Também existe a hipótese de, se Bullrich tiver uma vitória clara, parte dos votos do candidato de extrema-direita Javier Milei mudar para ela já no primeiro turno. “Mas são todas hipóteses”, reconhece o consultor.

A análise do jornalista Augusto Taglioni, do site argentino La Política On Line, é semelhante. “A leitura que se faz das primárias é que nenhum candidato poderia atrair 100% dos votos do outro”, observa Taglioni. “Por exemplo, se Larreta vence Bullrich, é mais provável que uma porcentagem importante dos votos dela vá para Milei. Só 30% dos votos de Bullrich vão para Larreta.”

O cenário de dispersão de votos beneficia o peronismo, ou seja, o grupo do governo do presidente Alberto Fernández e de sua vice, Cristina Kirchner, que apoiam Massa.

“O mesmo se aplica ao caso contrário, talvez não na mesma porcentagem”, analisa o jornalista. “A proximidade de Bullrich com Milei pode fazer com que no segundo turno da eleição muitos votos de Larreta se desloquem para Massa ou algum candidato mais moderado”, diz ele.

“De todo modo, são apenas especulações. As campanhas foram muito violentas. É preciso ver como terminam as primárias e como se acomodam depois de domingo.”

Candidatos / CNN

De acordo com a última pesquisa de intenções de voto da consultoria Management & Fit, Larreta tem 18% e Bullrich, 16%, o que somaria 34%, se essa lógica dos alinhamentos partidários for seguida; Massa tem 25% e o outro pré-candidato peronista, Juan Grabois, 6%, somando 31%; Milei tem 17%, que, se fossem destinados ao candidato ou candidata da direita, elevaria sua fatia de voto a 51%, significando a vitória no segundo turno.

Morte de manifestante cria novo fato político

Na quinta-feira, um manifestante morreu de ataque cardíaco depois de ser dominado por policiais em Buenos Aires. O protesto era pacífico e de um pequeno grupo de pessoas que se manifestavam “contra as eleições”, ou seja, contra o sistema político. Segundo Rodríguez, esse movimento expressa uma frustração geral com a situação do país, e propõe o voto em branco.

O manifestante morto, o argentino Facundo Molares, de 46 anos, foi combatente da extinta guerrilha colombiana Farc ao longo de 15 anos.

Depois do processo de paz, mudou-se para a Bolívia, e ficou preso lá por quase um ano. Segundo o jornal El País, Molares foi trazido da Bolívia para a Argentina em um avião enviado pelo governo do presidente Alberto Fernández, em 2020.

Foi detido na Argentina em 2021 em razão de um pedido de extradição da Colômbia, por causa do sequestro de um vereador, ocorrido em 2009. A extradição foi negada e ele acabou solto no ano passado.

Rodríguez equipara a morte de Molares à de George Floyd, asfixiado por policiais nos EUA em 2020. “A polícia atuou fora das regras”, diz o analista. Há um contexto político: Bullrich defende pulso firme contra a criminalidade e acusa Larreta, que é prefeito de Buenos Aires, de não manter a lei e a ordem na cidade.

“A morte é muito grave, mas acho que fortalece a base de Larreta frente à mão dura de Bullrich.” O prefeito defendeu a atuação da polícia no episódio.

Mercosul na mira

E como tudo isso pode repercutir sobre o Mercosul?

No período em que Jair Bolsonaro e Mauricio Macri eram presidentes, houve um ambiente favorável à redução da Tarifa Externa Comum (TEC), que, com uma média de 13%, dificulta as negociações de livre comércio com países desenvolvidos, cujas tarifas são em média de 4%.

Chegou-se a um acordo muito tímido de redução da TEC, que foi interrompida pela eleição de Fernández em 2019 e de Lula no ano passado. Teoricamente, Bullrich seria mais favorável ao livre comércio; Larreta, menos; e Massa, menos ainda, embora seja considerado mais liberal do que Fernández e Kirchner.

Mas isso não se traduz necessariamente em medidas concretas, avalia Taglioni, por causa das resistências de setores produtivos protegidos.

“Bullrich me parece um fenômeno parecido com o de Bolsonaro”, compara. “Na campanha dizem um mundo de coisas que depois são difíceis de concretizar. Na Argentina, para fazer tudo o que ela quer, ou faz acordo com grupos empresariais e sindicais, ou tem que sofrer uma série de tensões e conflitos sociais muito grandes.”

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Fonte : CNN BRASIL

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