Quando Johnny B. Barounis abriu o The Auction House, no Upper East Side de Nova York, em 1993, ele sabia que queria evitar um certo tipo de cliente na casa dos 20 e poucos anos de idade – em suas palavras, “aquela garotada com suas camisas de flanela amarradas na cintura, usando seus bonés Villanova ao contrário, andando pela rua com uma Amstel Light na mão”.

Barounis deliberadamente cultivou uma atmosfera em seu bar que sentiu que poderia intimidar um recém-saído da faculdade de 20 e poucos anos: ricas cortinas de veludo, lustres de cristal, móveis antigos. Às sextas e sábados, a mensagem era mais explícita: apenas clientes com 25 anos ou mais podiam entrar.

“Eu não precisava que um jovem de 21 anos chegasse com dois amigos, fizesse barulho e depois passasse mal no banheiro”, diz Barounis.

O empresário diz que sua política de idade era rara naquela época, e alguns questionaram a sua decisão de impedir a entrada de clientes mais jovens. Três décadas depois, o bar é uma espécie de instituição – e a política para maiores de 25 anos nos fins de semana foi tão bem recebida que ele a implementou em seu outro bar, The Back Room.

Hoje, muitos bares nos Estados Unidos impõem restrições de idade semelhantes – às vezes, até mais rigorosas – na esperança de atrair um público mais velho e conter o comportamento indisciplinado por vezes exibido por jovens que acabaram de atingir a idade legal para beber no país. Mas esses limites de idade ainda são incomuns em restaurantes, como foi possível observar na recente polêmica em torno de um restaurante no Missouri.

O Bliss, um restaurante caribenho sofisticado que abriu no mês passado nos subúrbios de St. Louis, provocou inúmeras manchetes e debates acalorados por permitir a entrada apenas de mulheres com mais de 30 anos ou homens com mais de 35. Na opinião de Barounis, o alvoroço sobre a política de idade do restaurante sugere que ela pode ter sido extrema demais.

“A diferença entre 21 e 25 é maior que 25 e 35”, afirma. “Em que ponto você define o limite?”

A forma como o proprietário do Bliss escolhe administrar o seu negócio é, obviamente, uma prerrogativa dele, na avaliação de Barounis e outros representantes do setor. Mas a discussão em torno da política de idade pouco convencional do restaurante levanta algumas questões interessantes: até que ponto as empresas podem ditar quem são os seus clientes? E até que ponto deveriam fazer isso?

Muitos clientes apreciam as restrições de idade

Geralmente, a sociedade parece ter alcançado uma aceitação tácita (embora relutante) das restrições de idade em determinados estabelecimentos.

Bares como o Auction House funcionam há muito tempo sem problemas, atendendo clientes que buscam sair à noite sem possíveis interrupções de clientes que ainda não aprenderam a lidar com a bebida. Alguns restaurantes viram um aumento nas reservas e nas vendas depois de proibir crianças pequenas. E os hotéis e resorts somente para adultos são populares nos Estados Unidos.

O proprietário do Bliss, Marvin Pate, disse à CNN que suas experiências gastronômicas positivas em resorts somente para adultos foram o que inspirou a política de idade de seu restaurante. Ele e sua mulher, Tina Pate, ambos de 42 anos, descobriram que havia uma demanda entre as pessoas de sua idade por um local onde pudessem descontrair, relaxar e ouvir a música que cresceram ouvindo.

“Por que não criar uma sensação de lounge em um resort, mas em um ambiente de restaurante?”, pergunta Pate, ao falar da ideia por trás do Bliss. “Na maioria parte do país, se você for a um lugar para quem tem 35 anos ou mais, na verdade, trata-se de um lounge com frituras. Pensamos no conceito de um restaurante onde as pessoas pudessem… ter um ambiente luxuoso e simplesmente se divertir com comida cozinhada de verdade.”

A julgar pelos comentários na página do Bliss no Facebook, muitos clientes se agradaram com o ambiente descontraído e maduro que o Bliss promete. Diversas pessoas pediram ao restaurante que não recuasse na sua política de idade, apesar das críticas que recebeu, enquanto algumas brincaram que não iriam discordar de um limite de idade ainda maior.

Marvin e Tina Pate, proprietários do restaurante Bliss, em St. Louis, nos Estados Unidos
Marvin e Tina Pate contaram que inspiração para restrição de idade no Bliss nasceu da experiência que tiveram em resorts / Divulgação/Bliss

Ainda assim, alguns comentários foram contra a ideia de que a idade é um filtro confiável sobre o nível de maturidade. Muitas pessoas questionaram se a política rigorosa do Bliss de selecionar as pessoas na porta é necessária para alcançar o ambiente sofisticado que Pate imaginou. Será que os jovens de 20 e poucos anos gostariam de frequentar um lugar onde a maioria da clientela está na faixa dos 30 e 40 anos?

“Uma restrição de idade para um restaurante é um pouco difícil, a menos que seja um bar e espaço para eventos também, na minha opinião”, disse uma pessoa que comentou um post do local. “Se eles querem evitar multidões perturbadoras, é melhor aumentar a faixa de preços, e não a faixa etária.”

Por mais questionáveis que alguns clientes considerem essas restrições de idade, essas políticas geralmente não constituem discriminação pela idade, afirma o advogado Trey Lindley, especialista em direito civil do escritório de advocacia empresarial Lord & Lindley, na Carolina do Norte.

As empresas geralmente têm o direito de definir as suas próprias diretrizes para o serviço, desde que não sejam baseadas em discriminações proibidas pelo governo federal por raça, religião, origem nacional ou deficiência, de acordo com Lindley. Um exemplo são as placas que proíbem pessoas “sem camisa” ou “sem sapatos” que proliferaram no início da década de 1970 ou as exigências de máscaras na era Covid.

Embora a lei federal proíba a discriminação por idade no contexto do emprego, Lindley observa que a idade normalmente não é uma característica protegida quando se trata de leis federais e estaduais que proíbem a discriminação em locais públicos. Desde que um estabelecimento tenha uma razão lógica para as suas regras e as aplique de maneira uniforme, o advogado diz que geralmente ele tem o direito de fazer isso.

“Acho que a maior preocupação dos restaurantes que desejam fazer isso é o potencial efeito negativo”, acrescenta.

Diferentes políticas etárias para homens e mulheres

Quando bares ou restaurantes instituem requisitos de idade, isso inevitavelmente suscita algumas reclamações por parte daqueles que se sentem excluídos.

Em maio, o Donerick’s Pub, nos subúrbios de Columbus, Ohio, ganhou as manchetes por aumentar o limite de idade para maiores de 30 anos às sextas e sábados. E, cada vez que um restaurante anuncia uma política que restringe a entrada de crianças, isso inspira um intenso debate nas redes sociais.

O bar Auction House, em Nova York, é um dos estabelecimentos que restrigem a entrada a maiores de 25 anos às sextas e sábados
O bar Auction House, em Nova York, é um dos estabelecimentos que restrigem a entrada a maiores de 25 anos às sextas e sábados / Troy Hahn

Embora parecesse haver pessoas chateadas com o fato do Bliss ter adotado restrições de idade, algumas das críticas se concentraram no fato de que as regras são diferentes para homens e mulheres.

O Bliss defendeu sua política de permitir mulheres com mais de 30 anos e homens com mais de 35, escrevendo em uma postagem de maio no Facebook que pretende criar uma “atmosfera adulta e sexy” e que isso ajuda a “manter um ambiente sofisticado, defender nossos padrões e apoiar o sustentabilidade do nosso ambiente único.”

Pate diz que o restaurante planejou inicialmente instituir uma política de 35 anos ou mais para homens e mulheres, mas reduziu o limite para as mulheres atenderem ao que chamou de “noite das mulheres” – referindo-se a jovens mulheres profissionais que se reúnem com amigas para happy hours e outros eventos sociais.

A diferença de cinco anos foi considerada arbitrária por alguns clientes, com algumas mulheres que atendiam aos requisitos de idade expressando frustração por não poderem visitar o Bliss com os seus parceiros homens.

“Por que posso vir aos 30 anos, mas meu marido, que fará 33 neste ano, não pode?”, uma cliente comentou em uma postagem do Bliss no Facebook. “Presumir que todos os jovens vão causar problemas é eliminar uma enorme multidão de pessoas que trariam mais negócios.”

“Posso perguntar por que os homens têm que ser mais velhos que as mulheres? Eu adoraria poder ir com meu noivo (que é mais velho que eu), mas ele só terá 35 daqui a dois anos”, escreveu outra pessoa.

A discrepância de idade do Bliss pode ser especialmente gritante, mas políticas separadas para homens e mulheres não são inéditas entre bares e casas noturnas. Barounis, por exemplo, lembra-se de ter trabalhado em um bar em Long Island, décadas atrás, que proibia mulheres com menos de 23 anos e homens com menos de 25 anos. E, durante anos, bares e discotecas atraíram clientes masculinos e femininos, oferecendo bebidas gratuitas ou com desconto para mulheres.

Mesmo que as regras do Bliss provavelmente não constituam discriminação por idade, Lindley diz que a discrepância de género pode deixar o restaurante sujeito a processos.

Mas Pate afirma que as políticas do Bliss não têm como objetivo discriminar ninguém. Ele diz que o objetivo é simplesmente proporcionar um ambiente relaxante para os clientes mais velhos e acrescenta que não considera que as restrições estejam fora do normal.

Especialistas consideram tendência improvável

Embora os proprietários de restaurantes e bares geralmente possam definir suas próprias regras sobre quem permitem a entrada, os especialistas do setor que falaram com a CNN duvidam que os estabelecimentos com restrições de idade se tornem uma tendência.

Excluir clientes com menos de 35 ou 30 anos atinge uma fatia de mercado que, de outra forma, seria desejável, diz Jason Kaplan, CEO da empresa de consultoria de restaurantes JK Consulting. Mesmo que bares consigam impor restrições de idade mais elevadas, o consultor diz que não recomendaria uma política tão rigorosa para os restaurantes, uma vez que as margens de lucro de alimentos são muito mais baixas. As gerações mais jovens tendem a gastar mais dinheiro bebendo e comendo fora, e Kaplan diz que é improvável que a maioria das empresas queira abrir mão disso.

“Estamos falando de um ponto interessante de jovens profissionais que basicamente vamos eliminar (desses estabelecimentos) e que estão dispostos a pagar por essas experiências”, diz Kaplan.

Eddie Fahmy, CEO da A2Z Restaurant Consulting, concorda. Ele diz entender por que um bar pode impor limites de idade apenas em determinados dias, mas acrescenta que excluir totalmente um grupo demográfico mais jovem é uma decisão de negócios arriscada.

“Se você tem um restaurante e quer ganhar dinheiro vendendo comida e atendendo clientes, isso simplesmente não faz sentido para mim”, observa.

Mas outros estabelecimentos com políticas restritas de idade dizem que o modelo de negócio funciona para eles. Toya Taylor, proprietária do lounge Horizons & More, para pessoas com mais de 30 anos, com sede em San Antonio, diz que sabe que provavelmente está perdendo alguns negócios ao proibir pessoas com menos de 30, mas também sente que isso reduz os riscos.

“Os lugares que estão começando (a usar restrições de idade) vão ver bons resultados, principalmente se persistirem”, afirma.

Já Johnny B. Barounis, do Auction House, entende que o burburinho gerado sobre os requisitos de idade do Bliss pode funcionar a seu favor e diz que está ansioso para ver se o restaurante terá sucesso com sua política incomum ou se acabará revendo a medida.

Pate, dono do Bliss, diz que não pretende mudar nada. E, quando os clientes mais jovens finalmente completarem 30 ou 35 anos, o restaurante estará lá, esperando para recebê-los. “Sinto que existia um grande vazio na sociedade americana e na cultura em geral”, observa o empresário. “As pessoas estavam pedindo isso, e nós apenas demos às pessoas o que elas queriam.”

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Fonte : CNN BRASIL

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