Os militares ucranianos na linha de frente da guerra contra a Rússia vivem em alerta constante diante do perigo, o que transparece não apenas em seus semblantes carregados e cansados, mas também na sinceridade de suas entrevistas.

“Claro que eu tenho medo. Aqui, quem não tem medo não vive muito tempo”, diz, sorrindo, um soldado voluntário de 52 anos estacionado desde março num posto avançado do exército a apenas 700 metros da fronteira com a Rússia.

A reportagem da CNN teve acesso a dois pontos da linha de frente das batalhas contra a Rússia.

Um deles na periferia da cidade de Kupyansk, tomada pelos russos no início do conflito e liberada no fim do ano passado – quando passou a ser um dos violentos pontos da linha de contato entre os dois exércitos. O segundo, o posto de controle na fronteira, utilizado pelos militares para monitorar de perto as atividades russas do outro lado de um pequeno vale.

Aquele ponto da fronteira, que não pode ser revelado a pedido dos oficiais ucranianos, mas que fica cerca de 40 quilômetros ao norte de Kharkiv, foi um dos locais usados pelos tanques do Kremlin para invadir o país em fevereiro de 2022.

A tensão é palpável em toda a região. Os militares adotam uma série de medidas de precaução para evitar ataques certeiros dos inimigos.

Afinal, os russos também têm seus postos avançados, e cada lado sabe da existência e localização aproximada do outro. Tanto que, no último mês, três soldados ucranianos foram mortos no posto, alvejados por franco-atiradores postados no território da Rússia.

VÍDEO – Enviado da CNN visita trincheiras onde soldados ucranianos resistem aos russos

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Tensão nos postos de controle

Para chegar à fronteira, a reportagem da CNN teve que passar por pelo menos seis postos de controle desde a saída de Kharkiv.

Quanto mais perto do posto se chega, mais tenso o ambiente fica. Inclusive pelo comportamento dos soldados nos “checkpoints”.

Nas proximidades da fronteira, eles são mais vigilantes e se incomodam com a presença de jornalistas. Fazem várias perguntas para oficiais ucranianos que viajam com a reportagem e também para o representante da ONG Kharkiv Media Hub, a organização que facilitou a ida à fronteira junto com o Transatlantic Dialogue Center.

Exigem também que todos desliguem os celulares, para evitar que os russos usem a geolocalização para bombardear o comboio.

Depois de alguma conversa, os carros passam pelo controle e se movem rapidamente para debaixo de árvores, buscando camuflagem. O motivo: um alerta de possível bombardeio aéreo russo. Passam-se cerca de 20 minutos sem que qualquer passageiro do veículo diga uma simples palavra – o momento mais tenso de toda a viagem.

Quando o oficial que nos acompanha decide que não há mais perigo, voltamos à estrada esburacada.

No caminho, dois vilarejos completamente destruídos pelos russos. Casas de pequenos agricultores locais queimadas, com as janelas arrebentadas e telhados caindo. Exemplo das atrocidades cometidas no conflito, as duas vilas hoje estão totalmente abandonadas e as plantações, apodrecendo.

O posto, onde se acomodam mais ou menos 20 militares, é feito de trincheiras improvisadas embaixo de árvores, que oferecem uma camuflagem para confundir drones e mísseis russos. Os soldados ucranianos do local são todos voluntários. Um deles, por exemplo, era motorista antes da guerra. Outro, professor.

Todos pedem que a reportagem ande exatamente atrás deles, para evitar possíveis minas plantadas pelos russos durante a ocupação.

Usando capacetes e coletes de proteção, todos precisam andar dentro das trincheiras e entre as árvores, para dificultar a ação de eventuais franco-atiradores. As câmeras também não podem mostrar o horizonte, em direção à fronteira, porque facilitaria a localização exata do posto pelos russos.

É possível identificar possíveis postos russos, disfarçados, usando binóculos numa plataforma um pouco mais alta, improvisada entre as árvores.

O chefe do destacamento diz que continua motivado, mas que é muito triste perder companheiros na luta, como aconteceu com os recrutas alvejados pelos franco-atiradores.

VÍDEO – Enviado especial da CNN à Ucrânia relata rotina em Kiev

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Artilharia pesada

Ao fundo, pode-se escutar os sons da artilharia russa tentando atingir outros pontos da linha de frente. E metralhadoras, dos dois lados, trocando tiros.

Em Kupyansk, a batalha é ainda mais intensa. Morteiros são disparados incessantemente pelos dois lados, numa guerra de atrito que busca afetar a moral do inimigo, além de, claro, tentar conseguir o maior número de baixas possível.

A linha de frente nesta posição mostra as reais dificuldades da contra-ofensiva ucraniana. As forças de Kiev lutam a partir de trincheiras, em campo aberto numa faixa de cerca de dois quilômetros, sob intenso fogo de artilharia.

Mesmo armados com equipamentos ocidentais de última geração e com treinamento na Otan, as forças ucranianas não conseguem avançar na velocidade esperada.

E o cansaço é evidente entre os soldados. “Minha principal motivação é sobreviver. Mas vou sobreviver e venceremos a guerra”, diz um veterano da luta em Bakhmut, provavelmente a batalha mais sangrenta de toda a guerra.

Veja também: Enviado da CNN explica como é o processo de entrada nas trincheiras ucranianas

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Fonte : CNN BRASIL

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