A vergonha é um sentimento que causa desconforto e, muitas vezes, pode trazer prejuízos à vida pessoal, social e profissional. Por isso, aprender a lidar com essa emoção é um desafio necessário e, muitas vezes, requer tratamento em terapia.

Recentemente, o filme “Divertida Mente 2” apresentou a Vergonha como uma das novas emoções da personagem Riley, de 13 anos. Na trama, o personagem que representa o sentimento é corpulento e sempre usa um moletom no qual esconde seu rosto. Em entrevista ao USA Today, a diretora do filme, Kelsey Mann, disse que a intenção era projetar “o verdadeiro sentimento de vergonha”.

No entanto, a vergonha não é exclusiva de adolescentes e crianças, e, também, pode afetar a qualidade de vida de adultos. “[A vergonha] torna-se um problema quando interfere no comportamento cotidiano, pode provocar isolamento social e falta de ‘coragem’ para estabelecer relacionamentos, um constante sentimento de inadequação, autocrítica severa e baixa autoestima”, explica Larissa Fonseca, psicóloga clínica e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), à CNN.

Afinal, o que é vergonha e como ela se manifesta?

Segundo a especialista, a vergonha é uma emoção de desconforto, resultante de um sentimento de inadequação e inferioridade. Geralmente, é caracterizada pelo desejo de se esconder e medo de ser julgado negativamente. “Uma característica comum é a evitação social, podendo chegar, até mesmo, ao diagnóstico de ansiedade social”, alerta Fonseca. “É comum que a pessoa com vergonha sinta aceleração cardíaca e respiratória, seguida de vontade de fugir de determinada situação”, completa.

Além desses “sintomas”, a vergonha pode se manifestar por sinais como:

  • Baixa autoestima;
  • Dificuldade de agir diante de situações e atitudes simples do dia a dia;
  • Sintomas físicos de estresse e ansiedade, como insônia, inquietação, dificuldade de concentração, tensão muscular, desregulação do apetite e excesso de preocupações.

Em crianças e adolescentes, alguns sinais podem acender alerta aos pais e responsáveis para uma possível inibição dos filhos, conforme aponta Marcelle Alfinito, especialista em psiquiatria e psicanálise com criança e adolescente. É o caso de:

  • Alta introversão e timidez;
  • Baixa feição afetiva;
  • Baixa busca por novidades.

“A inibição comportamental infantil possui associação importante com a sintomatologia ansiosa e depressiva na idade adulta. Quanto maior a gravidade, maior o prejuízo cognitivo”, afirma Alfinito.

Vergonha x ansiedade social: como diferenciar?

Muitas vezes, a vergonha e a timidez podem ser confundidas com a ansiedade social. No entanto, a segunda é um transtorno de saúde mental conhecido também pelo termo “fobia social“. “Nela, há um sentimento de rejeição social com comportamento recluso, ataque de pânico em situações sociais desafiadoras com desejo de fuga na iminência das interações interpessoais e ansiedade antecipatória”, elenca Alfinito.

“Na área da saúde temos 3 pontos importantes a serem observados: a frequência, a intensidade e o sofrimento clínico que a pessoa está vivendo. O diagnóstico de transtorno de ansiedade social deve ser somente fornecido por psiquiatra ou psicólogo capacitado”, completa.

Quais são as causas da vergonha?

Segundo Fonseca, traumas na infância, como abusos emocionais, físicos ou negligência, podem estar relacionados ao desenvolvimento de vergonha ou timidez na vida adulta. “Esses traumas podem levar a uma visão distorcida de si e ao medo constante de julgamento e rejeição”, explica a psicóloga.

A infância é a fase em que a personalidade está em desenvolvimento, e a maneira como a criança é estimulada nas relações familiares, o excesso de críticas e cobranças são fatores que contribuem para a maior ou menor timidez, segundo Alfinito. “Na adolescência, a causa mais comum e de maior impacto é a comparação com os pares”, acrescenta.

“Quando na infância pais e cuidadores reforçam a autoestima dos filhos, contribuem na construção da identidade com sensação de capacidade e autoconfiança, o que provavelmente, diminui a timidez excessiva e a possível ansiedade social”, complementa Fonseca.

Como lidar com a vergonha? Veja dicas práticas

Segundo as especialistas, a vergonha, quando não tratada, pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão. Nesse sentido, a psicoterapia é fundamental para o tratamento. “Ela auxilia no aumento da autoestima para enfrentar situações embaraçosas com inteligência emocional, jogo de cintura e até momentos de descontração para sairmos da situação até com mais autoconfiança”, defende Fonseca.

A seguir, as especialistas listam dicas práticas para lidar com a ansiedade:

Em crianças e adolescentes

  • Pais devem se conectar verdadeiramente com os filhos, através da aceitação e valorização dos pensamentos e sentimentos dos pequenos, e da empatia;
  • Incentivar o desenvolvimento de autoestima na criança e no adolescente;
  • Promover um ambiente seguro e de compreensão;
  • Evitar educação autoritária e rígida, investindo em uma autoridade “participativa”, promovendo um ambiente saudável para o desenvolvimento dos filhos.

Em adultos

  • Aceitar que a vergonha é uma emoção natural;
  • Avaliar aspectos positivos e realizações pessoais, mesmo em situações de vergonha;
  • Desenvolver a autocompaixão e a autoaceitação;
  • Compartilhar sentimentos de vergonha com psicólogos ou pessoas de confiança;
  • Realizar, com a ajuda de profissionais, treinamentos em situações sociais para melhorar a confiança aos eventos possivelmente estressantes e exercícios graduais para reduzir a ansiedade associada à vergonha;
  • Praticar técnicas de mindfulness e técnicas de relaxamento para gerenciar a ansiedade.

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Fonte : CNN BRASIL

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