Da cidade de Caratinga, cidade do interior de Minas Gerais próxima a Governador Valadares, para as passarelas da Semana de Alta-Costura de Paris. Essa é a trajetória de Gabriela Ádie, transexual brasileira que bombou nas redes sociais com seus conteúdos sobre maquiagem e levou seu talento para o mundo da moda.

Colecionando trabalhos para marcas de renome internacional, como Paco Rabanne, Carolina Herrera e Yves Saint Laurent, a jovem de 21 anos já é uma veterana da São Paulo Fashion Week, da qual participou por quatro temporadas e chegou às passarelas mais relevantes do mundo na capital da França. Por lá, Gabi Ádie desfilou pela Patou na Semana de Alta-Costura e pela Marine Serre na Semana de Moda.

Mas todo esse potencial revelado no ofício de modelo nasceu mesmo no universo da maquiagem. Foi vendo sua mãe se maquiar e se cuidar que Gabriela percebeu seu amor pelo mundo da beleza. Aos 14 anos, a mineira começou a fazer conteúdo para as redes sociais, onde documentou sua transição de gênero e explodiu para o mundo.

“Sempre brinco com ela [sua mãe] que ela foi ainda é a minha maior inspiração. Olho para trás e vejo a Gabizinha bem pequena, que amava ficar pegando as maquiagens da minha mãe e amava ver o momento em que ela parava a noite para passar um creme no rosto”, relatou a modelo à CNN.

“Comecei fazendo maquiagem enquanto um menino que se maquiava, depois me descobri e a minha transição ela foi toda ali. Nesse processo de fazer tudo isso na internet, eu acabei gerando um público e crescendo.”

Dos tutoriais de maquiagem para as passarelas

Gabi contou que seu scouter, isto é, olheiro, se encantou por seu trabalho sem saber que ela era uma mulher transgênero e viu nela um potencial para as passarelas. Em 2022, com o fim da pandemia, ela se muda para São Paulo e passa a investir e se preparar para cruzar as passarelas.

“O desejo de entrar numa passarela é algo que permeia cabeça de muitas meninas. A gente veio de uma geração muito marcada assim pelas modelos dos anos 2000 e atualmente, nas minhas redes sociais, quando eu entro só dá desfiles de grandes modelos. Começa daí o meu desejo de entrar na passarela”, explicou.

Depois de se preparar, a modelo chegou à São Paulo Fashion Week, que classificou em entrevista à CNN como a principal porta de entrada para o mundo da mo.da

“É onde estão todos os holofotes da moda nacional. Participar  de uma Fashion Week é muito importante para uma modelo principalmente. O jeito que as pessoas se vestem é muito diferente das semanas de moda internacionais”, defende a mineira.

Como Gabi Ádie chegou às passarelas de Paris?

Já com o caminho no mercado nacional pavimentado, Gabi decidiu, por si só, desbravar o universo da Meca da moda: Paris. Ela conta que, como nenhuma agência quis levá-la para a capital francesa, a mineira precisou juntar seu próprio dinheiro para arcar com os custos das passagens aéreas, da hospedagem e até de um curso de francês.

“Eles corriam um certo risco de levar uma menina trans e, quando eu chegasse lá, não fizesse nada, não trabalhasse. Seria um prejuízo para eles”, contou. “Pensar sobre isso é extremamente pesado.”

“Quando você é modelo trans, você tem que ter um trabalho 20 vezes maior do que o de outras meninas cis.”

Uma vez em Paris, Gabi Ádie se pôs a correr a cidade, conhecer pessoas, ampliar sua rede de contatos e, claro, fazer castings. Para ela, esses momentos em que as modelos “aplicam” para as vagas em desfiles e sessões de fotos são cruciais para as novas modelos que desejam fazer seus nomes. É neles que elas vão entender como funcionam o mercado e as pessoas.

Depois de ter desfilado para grifes como Patou e Marina Serre, a modelo mineira revela ter vontade de ir além e marcar sua presença no universo de modelos internacionais.

“Ainda estou engatinhando muito no mercado internacional. É tudo muito recente. Fi para minha primeira temporada, então ainda não considero que entrei de fato no mercado”, defende.

Mercado da moda para modelos trans

Refletindo sobre o mercado da moda, Gabi explicou à CNN que acredita que, por conta das estruturas dificultarem seu caminho na moda, as mulheres transexuais tendem a batalhar dentro da indústria com mais sede de fazer acontecer. Segundo ela, o medo atrelado à sua condição de gênero a impulsiona a conquistar cada vez mais.

“É algo muito interno que permeia a gente, um certo medo que às vezes até move a gente. Temos essa sede que vem junto com o medo”, afirma.

Seu objetivo é ter uma carreira duradoura, fixar seu nome na indústria e não ser lembrada meramente para preencher uma espécie de cota.

Reconhecendo seus privilégios, como o de ter crescido em uma família que aceitou sua transição de gênero, Gabi pontua que cada mulher trans tem uma trajetória única e foge da ideia de ser posta como espelho para outras meninas que sonham em cruzar as passarelas do mundo. O que ela quer fazer é ajudar a abrir portas, para que cada mais mulheres transgênero alcancem seus sonhos.

“Não quero ser a única, eu não tenho esse desejo de ser a primeira, a única pessoa que faz tal coisa. Quero trazer comigo pessoas e mais referências para esse mercado, para que ele se torne cada dia mais diverso e tenha pessoas que apresentam recortes sociais diferentes, além do meu.”

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Fonte : CNN BRASIL

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