O Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, se tornou uma “réplica” do terrível cenário criado pelo governo nazista nos tempos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Tudo para levar os visitantes a terem uma mínima noção do drama vivido pelos judeus e por outros povos perseguidos durante os horrores do Holocausto. 

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O fio da meada dessa história é a vida do sobrevivente judeu Julio Gartner e toda a trajetória, desde sua infância na antissemita Cracóvia, na Polônia, até ser libertado, pesando pouco mais de 30 quilos, pelos aliados, em 1945. Depois de passar por cinco campos de concentração e perder os seus pais logo no início da guerra.

Por meio de imagens e sons, na exposição A Tragédia do HolocaustoA Vida de Julio Gartner, que vai até o dia 21 de abril, o visitante experimenta um pouco do gosto amargo daquela tragédia. Logo de início, ele depara com muros e cercas de arame farpado do gueto onde Gartner, nascido em 1924, morava com sua família. 

Nas paredes, textos enquadrados explicam as passagens históricas, seguidos de fotos de corpos, de ruas cheias de judeus em busca de sobrevivência, de guardas nazistas sorrindo enquanto os prendiam e os torturavam. Então o som de estilhaços, de gritos de crianças horrorizadas, de latas de ferro jogadas no chão tomam conta do ambiente. 

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Os transportes de judeus para os campos de concentração, criados pelo governo nazista como instrumento para extermínio de toda a população judaica, também são retratados com impacto.

Há até a possibilidade de entrar em um vagão simulado, repleto de roupas em cabides, para sentir um pouco da sensação de sufocamento. 

Espremidos em vagões de gado, eles eram levados aos campos, em viagens que duravam um dia ou até duas semanas, quase sem comida e sem lugar para fazerem suas necessidades. No inverno, muitos morriam de frio. E, no verão, de calor.

Nos locais, feitos para receber 40 pessoas, mais de cem pessoas se amontoavam, quase sem poder respirar. Isso sem contar o desespero que sentiam diante da iminência do fim e a agonia em se verem, muitas vezes, separados dos parentes.

As câmaras de gás também são reproduzidas, com toda a história da busca nazista em, por meio de um gás “eficiente”, o Zyklon B, matar um maior número de judeus em um tempo mais reduzido. 

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As vítimas iam para os locais em fila, desnudas, famintas, trêmulas por desconfiarem de que a história que os guardas lhes contavam, de que iam apenas tomar um banho, não passava de mais uma mentira dessa máquina forjada para matar.

A trajetória de Julio Gartner

Julio Gartner
Julio Gartner se casou e teve dois filhos e quatro netos no Brasil | Foto: Eugenio Goussinsky/acervo Eduardo El Kobbi

Gartner vivenciou ou testemunhou muitos desses momentos. Aos 17 anos, depois de os judeus serem expulsos do gueto de Cracóvia, ele se escondeu em uma aldeia local. Passou noites em silos e matagais, antes de ser encontrado e levado para o campo de Plaszów. De lá, depois de nove meses, foi transferido para Auschwitz. Ambos ficavam na Polônia.

Ele ainda foi enviado para os gelados campos de Mauthausen e Melk, na Áustria, até chegar ao campo de Ebensee. Segundo ele, este era o pior campo em toda a Europa. Só não morreu porque foi recrutado para ajudar na construção de uma linha de trem.

Trabalhando quase 24 horas por dia, carregando pedras ou também na abertura de túneis, Gartner foi libertado à beira de desfalecer, quando a guerra terminou, em 1945.

A astúcia em se esconder, antes de chegar aos campos de concentração, e a sorte, segundo o próprio Gartner, o fizeram sobreviver.

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Livre, ele foi para o sul da Itália. Ficou um tempo abrigado nos estúdios da Cinecittá, adaptado para receber refugiados. Dois anos depois, veio de navio para o Brasil, com o irmão do meio, Norberto, motivado por uma carta do irmão mais velho, Henrique, que contava que iria viver no país.

Gartner já conhecia a distância o Brasil, por ser apaixonado por futebol e fã de Leônidas da Silva. Quando criança, sonhava em ser jogador. Mas os percalços da guerra o impediram de realizar qualquer objetivo que não fosse sobreviver.

Adotou o Brasil como o seu país. Em São Paulo, passou a trabalhar com confecções, casou-se com Perla, teve dois filhos e quatro netos. Faleceu em 11 de novembro de 2018, aos 94 anos. Ele sempre deixou claro que a vinda ao Brasil foi o seu renascimento, depois de passar anos vendo, todos os dias, a morte de perto.

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Fonte : Revista Oeste

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