© Antonio Cruz/ Agência Brasil
© Antonio Cruz/ Agência Brasil

Dez anos se passaram desde que a barragem de Fundão, operada pela Samarco, se rompeu em Mariana, Minas Gerais, liberando cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração. O desastre, ocorrido em 5 de novembro, marcou a vida de milhares de pessoas, deixando um rastro de destruição e dor que persiste até hoje.

Mônica Santos, que trabalhava em um consultório odontológico em Bento Rodrigues, um dos distritos mais afetados, jamais imaginaria que naquele dia, ao sair para o trabalho, veria sua casa coberta de lama apenas 24 horas depois. Uma década depois, a luta por justiça continua sendo uma constante em sua vida.

A memória da tragédia permanece viva em sua mente, como se tudo estivesse acontecendo naquele instante. Desempregada atualmente, Mônica recorda o telefonema de uma prima, o desespero, a busca pela mãe no trabalho e a tentativa frustrada de chegar em casa. A imagem da sua residência soterrada pela lama permanece nítida. Naquele dia, 19 pessoas perderam a vida e mais de 600 ficaram desabrigadas. Além de Bento Rodrigues, comunidades como Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Pedras, Águas Claras e Campinas também foram atingidas.

Mônica, que morava com a mãe, relembra que a empresa responsável sempre transmitiu segurança, garantindo o monitoramento constante da barragem. A tragédia ceifou a vida de cinco amigos próximos, uma dor que ainda a acompanha.

Atualmente, Mônica reside no reassentamento de Novo Bento Rodrigues, a 13 quilômetros da antiga comunidade. Apesar da nova moradia, ela ressalta que ainda há problemas a serem resolvidos e casas a serem construídas. Muitos moradores permanecem desabrigados, sem sequer terem um projeto de casa.

A líder comunitária reforça a necessidade de lutar por justiça, buscando garantir que todos os afetados sejam devidamente indenizados e restituídos. Uma das suas maiores preocupações é que as casas entregues pela Samarco ainda não estão no nome dos moradores.

A esperança de Mônica reside na concretização do reassentamento de todos os moradores, na justa indenização das vítimas e na responsabilização dos envolvidos. Ela acredita que a impunidade em Mariana contribuiu para a ocorrência da tragédia de Brumadinho, em 2019, que resultou em 272 mortes.

Segundo Márcio Zonta, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, o desastre de Mariana é reflexo de decisões minerárias que não consideram a população. Ele critica a falta de um projeto nacional de mineração que priorize o bem-estar das comunidades afetadas.

O Brasil possui um grande número de barragens, muitas das quais apresentam risco de colapso ou estão em situação de alerta, especialmente em Minas Gerais. Zonta alerta para a possibilidade de novos desastres, evidenciando a fragilidade do sistema de mineração no país.

Desde 2015, a Samarco destinou recursos para ações de reparação e compensação, incluindo pagamentos de indenizações individuais. A empresa afirma que esses recursos têm contribuído para a recuperação econômica da região, estimulando o comércio e gerando empregos.

Francisco de Paula Felipe, agricultor e morador reassentado, expressa esperança de uma vida melhor na nova moradia. Ele recebeu parte da indenização e aguarda a resolução de pendências na Justiça. A vida nos últimos dez anos não foi fácil, mas ele espera ter saúde para criar suas filhas e vê-las trilhando seus próprios caminhos.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

Destaques Informa+

Relacionadas

Menu