O desequilíbrio do sistema de saúde brasileiro, marcado por custos elevados, envelhecimento da população e restrições a reajustes, tem feito com que a verticalização seja vista como uma saída para que as operadoras de saúde possam ser lucrativas. E, nesse cenário, quem larga na frente é a Hapvida, segundo a Kinea Investimentos.

Depois do trabalho de consolidar diversas aquisições, ao mesmo tempo em que teve que lidar com a pandemia de Covid-19, o braço de investimentos alternativos do Itaú Unibanco vê a companhia pronta para expandir sua participação de mercado.

“Acreditamos que estamos passando pelo ponto de inflexão dessa história [consolidação das aquisições]”, diz trecho do estudo, antecipado ao NeoFeed. “Em outubro, teremos o início da integração de sistemas, de forma que, em 2025, a empresa deve voltar a focar em crescimento, além de começar a se apropriar de sinergias, melhorando a sua rentabilidade.”

Segundo o estudo, a integração de sistemas e o aprofundamento da verticalização já vem demonstrando resultados positivos, como fica claro no controle do índice de sinistralidade. O MLR, na sigla em inglês, neste ano está previsto para estar em cerca de 68,7%, depois de estar em 71,8% em 2023 e 72,8% em 2022. Para 2025, a projeção da Kinea é de que o índice recue ainda mais, a 67,5%.

Os resultados que a Hapvida tem obtido com o modelo verticalizado tem estimulado outras empresas a seguirem pelo mesmo caminho. Essa estratégia é vista como uma forma de diminuir um dos pontos que aumentam os custos da saúde: as divergências entre fontes pagadoras e os prestadores de serviços com relação a custos de procedimentos.

A gestora cita a compra da SulAmérica pela Rede D’Or, em fevereiro de 2022, assim como os acordos firmados pelo Bradesco Saúde com a empresa de hospitais carioca, em maio deste ano, para criar uma nova rede de hospitais, e com Mater Dei, em dezembro, para a construção de um hospital de alta complexidade em São Paulo.

“Quando um plano de saúde possui um hospital, o objetivo é maximizar o lucro total, e não de suas partes individuais, transformando o hospital de centro de receita para centro de custo, eliminando desincentivos”, diz trecho do estudo.

Mesmo que, num primeiro momento, a estratégia apresente custos elevados e seja complexa de implementar, a Kinea aponta que, se bem executada, ela oferece às operadoras maior controle da sinistralidade e de custos.

Isso, por sua vez, permite oferecer planos a preços mais atrativos, inclusive planos individuais, “levando a ganhos substanciais de mercado, como vimos nos últimos anos com os casos da Hapvida e Intermédica, que se fundiram recentemente”.

O estudo afirma ainda que a Hapvida apresenta um valuation atrativo. Segundo a gestora, as ações da companhia já negociou em patamares bem elevados, com o P/L acima de 20 vezes, explicado pela expectativa de continuidade de crescimento de vidas e captura de sinergias com a Notre Dame Intermédica.

“Atualmente, vemos essa ação negociando a múltiplo de lucro 2025 próximos a 11 vezes ex-ágio, o que nos parece uma boa relação risco-retorno para esse tipo de ativo”, diz trecho do estudo.

Precisa mais

A verticalização da saúde se tornou um caminho para melhorar o controle de custos e a sinistralidade. Outra solução foi adotar novos modelos de pagamento, que resultou na coparticipação.

Mas a Kinea destaca que esses caminhos não resolverão, por si só, as pressões que vêm de diversos lados e que acabam inviabilizando a oferta de planos baratos e retiram uma série de nomes do mercado.

Além dos conflitos de interesse entre as operadoras de saúde e os prestadores, a Kinea aponta para a constante inclusão de novos tratamentos na lista de procedimentos obrigatórios pelos planos de saúde, definida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

De acordo com a gestora, nos últimos anos, os operadores de plano de saúde foram obrigados a arcar com uma série de tratamentos custosos, citando casos de medicamentos de R$ 6 milhões para tratamento de atrofia muscular espinhal (AME) em bebês até cobertura ilimitada de tratamento para Transtorno do Espectro Autista (TEA), fonoaudiologia, psicologia e fisioterapia.

A obrigatoriedade de tratamentos vem num momento em que a população está envelhecendo de forma acelerada. Isso impacta diretamente os custos do sistema, uma vez que há uma relação direta entre idade e utilização, segundo a Kinea.

E enquanto os custos estão subindo, os reajustes dos planos individuais, que são prerrogativa da ANS, não estão acompanhando. O estudo destaca que os reajustes têm sido consistentemente inferiores à inflação médica.

“Aliado à impossibilidade de rescisão unilateral, os custos dos planos de saúde (sinistralidade) individuais atingiram níveis recordes nos últimos anos. Isso também causou uma redução na participação de mercado desses planos, pois a baixa rentabilidade tornou a operação inviável para muitos prestadores”, diz trecho do estudo.

Para a Kinea, além de novos modelos administrativos, a situação exige uma reflexão por parte de governo e sociedade sobre como “otimizar” o seguro de saúde privado de forma “a gerar produtos que combinem pontos de preços acessíveis para a população e ao mesmo tempo expectativas realistas do que esse seguro pode e deve estar cobrindo”.

As ações da Hapvida fecharam o pregão de segunda-feira, 16 de setembro, com alta de 0,43%, a R$ 4,62. No ano, elas acumulam alta de 7,69%, levando o valor de mercado a R$ 34,8 bilhões.

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Neofeed

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