Em 2002, Maria das Neves doou o coração e outros órgãos do marido que teve morte cerebral. Após 21 anos, ela se viu em meio a uma coincidência do destino. O atual marido dela, Francisco de Assis Quixaba, precisou de um novo coração e recebeu o órgão a partir da fila de transplante do SUS. “Na época eu jamais imaginava que um dia eu ia ter alguém do meu lado que precisaria de um coração”, disse Maria.
O primeiro marido de Maria das Neves foi baleado na cabeça durante um assalto e no hospital foi constatada morte cerebral. Apesar do marido não ser doador, Maria autorizou a doação dos órgãos. “O que precisar e o que puder doe para salvar a vida de outras pessoas”, declaro.
A ação provocou revolta da família. O ex-sogro ficou por dez anos sem falar com ela por achar que o filho teria sido “enterrado sem nada”.
Anos depois, Maria das Neves casou novamente e em 2012, Francisco de Assis, que tem 47 anos, teve um infarto e passou por cateterismo, então os médicos detectaram uma deficiência cardíaca muito grave.
Segundo a a cardiologista clínica e coordenadora do ambulatório para transplante do Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, Tauanny Frazão, Francisco tinha o diagnóstico de miocardiopatia dilatada idiopática, uma doença que tem um alto índice de mortalidade. Ele apresentava uma insuficiência cardíaca avançada, o coração bombeava na fração de 20%, quando o normal é acima de 55%.
Francisco precisou usar medicação contínua e em um espaço de um ano precisou ser internado 11 vezes, algumas delas na UTI. “Ele vivia mais UTI do que dentro de casa”, relata Maria.
De acordo com Francisco ele não conseguia fazer nada sem que ficasse cansado. “Não conseguia tomar um banho sozinho, não conseguia vestir uma roupa ou escovar o dente de pé. Precisava fazer as coisas devagarinho e sentado”, conta Francisco.
O transplante
Em 2022, Francisco precisou ser internado na UTI do Hospital Flávio Ribeiro e todos os dias que Maria ia até o local pensava que o marido poderia ter morrido porque o funcionamento cardíaco de Francisco estava apenas em 18%. E após 30 dias, ele foi transferido para o Hospital Metropolitano, onde passou um longo período internado.
Em maio de 2022, foi colocado na fila de transplante. “Vou escrever ele na fila agora, mas vamos esperar com paciência”, Maria relata o que ouviu da médica.
Com 9 meses o coração apareceu e graças a Deus fizemos a cirurgia e deu tudo certo. Eu não esperava que iria acontecer tão cedo”, conta Francisco.
O transplante foi realizado no dia 18 de janeiro de 2023 no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires.
De acordo com a PB Saúde, o órgão foi doado por uma família de Campina Grande. O doador, de 39 anos, teve morte por trauma crânio-encefálico após um atropelamento. Além do coração, também foram doados o rim esquerdo e as córneas. A captação aconteceu no Hospital Estadual de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes.
Tanto a captação como o transplante do coração ocorreram em instituições públicas de saúde no estado e, o trabalho envolveu diversos profissionais
‘Uma nova vida’
Francisco teve alta no dia 10 de fevereiro, após 23 dias de internação. “Foi a maior emoção do mundo. Eu praticamente tô vivendo de novo. É uma nova vida”, comemora Francisco.
Atualmente, após 7 meses da cirurgia, Francisco consegue fazer as atividades do dia a dia que antes não conseguia. Ele dirige, vai à feira e faz caminhada. “Eu fiquei novo. Só não tô correndo porque a médica, a minha cardiologista, não me liberou ainda”, comenta Francisco.
É importante falar sobre isso para que outras pessoas não tenham esse tabu de não querer ser doador. Quem recebe um órgão, recebe uma chance uma nova vida. Eu fico muito agradecida a Deus, pois a minha doação, ele me deu de volta, afirma Maria das Neves.
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Fonte: Jornal da Paraíba