Após dois meses de calendário com decisões monetárias não coincidentes, a “superquarta” está de volta e turbinada. Nos dias 30 e 31 de julho, terça e quarta-feira, o Banco Central e o Federal Reserve voltarão a discutir suas taxas. De quebra, o Banco do Japão, também na quarta, define o juro que deverá subir, enquanto BC e Fed mantêm o script de taxas inalteradas.

Mas o horizonte favorece os investidores em Brasil, altamente remunerados e sem qualquer sinal de mudança à vista. Já no mercado americano, o aperto monetário está com os dias contados. E o ajuste no Japão, antecipado pelos mercados, tende a continuar afetando sobretudo o câmbio internacional, onde o iene sofre forte valorização e sacode as moedas – entre elas o real.

O Comitê de Política Monetária (Copom) deverá reprisar, na quarta-feira, 31, Selic de 10,50% pela segunda vez consecutiva. Na mesma trilha, o Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed (Fomc, na sigla em inglês) deverá sustentar o intervalo de 5,25% a 5,50% vigente desde julho de 2023.

Ainda neste ano, mais duas “superquartas” estão agendadas – em setembro e novembro. Em dezembro, o Copom se reúne nos dias 10 e 11 e o Fomc em 17 e 18. Por aqui, a previsão é de Selic inalterada até março de 2025.

Nos EUA, onde a economia segue forte e cresceu 2,8% anualizados no segundo trimestre ante 1,4% no primeiro, mas a inflação arrefece, a expectativa ainda é de três reduções de juro este ano. Em cortes idênticos ou próximos a 0,25 ponto percentual em setembro, novembro e dezembro. Sequência que poderá levar o juro à faixa de 4,50% a 4,75% ao final de 2024, aponta a ferramenta FedWatch, do CME Group.

Por aqui, embora impensável pelo governo Lula, uma elevação da Selic não é descartada. Ao contrário, seria “saudável”, avalia, sob reserva, um experiente gestor de recursos em conversa com o NeoFeed. Ele reconhece que a taxa atual é restritiva. “Mas o dólar forte e a percepção de que a âncora fiscal não é crível contratam pressões inflacionárias e deterioração das expectativas. E direcionam maior atenção ao BC”, observa.

Um BC que, nos próximos meses, entrará fase de intensa vigilância, e para além da imediata política de juro, por ser protagonista de projetos relevantes de mudanças que não acontecerão a toque de caixa, mas estão na antessala da troca de comando da instituição.

É elevada a expectativa de antecipação pelo presidente Lula, ainda em agosto, da indicação do substituto de Roberto Campos Neto. O diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, é candidato preferencial ao posto, em 1º de janeiro, quando mais duas diretorias do BC estarão de cara nova.

Um BC em transformação?

A antecipação das indicações se justifica ante o calendário das eleições municipais porque poderá dar ao Senado mais tempo para chancelar o “novo” BC até o fim do ano. E, assim, não prejudicar o primeiro Copom de 2025, previsto para 28 e 29 de janeiro, quando o Congresso ainda estará fora do ar.

Câmara e Senado retomam os trabalhos no início de fevereiro e com foco na eleição para as presidências das duas casas. Pleito de grande relevância para o Executivo, que tem importante agenda fiscal a defender, e para o próprio BC que não estará alienado de futuras decisões parlamentares. Ao contrário.

Embora sem data prevista para avaliação, transita no Senado proposta sobre a autonomia orçamentária e financeira da instituição. Projeto que, se aprovado, transforma a autoridade monetária em empresa pública sob supervisão do Senado. O governo resiste a essa subordinação e trava um cabo de guerra.

Também ganhará fôlego a proposta da Fazenda de transformar o BC e a Comissão de Valores Mobiliários em super-reguladores do mercado financeiro. Os dois órgãos responderiam pelo monitoramento, regulação e supervisão dos mercados financeiro, de capitais e seguros. Talvez, até previdência.

Embora em fase de discussão, a agenda prospectiva que envolve o BC é relevante. Sugere que a instituição passará por uma reformulação de fôlego ainda no terceiro mandato de Lula – muito focado, por ora, na política de juros.

Contudo, mudança em curso não deverá servir de estímulo ou desculpa para que o BC deixe de cumprir com rigor o seu principal mandato: manter a inflação sob controle e visando o atingimento da meta de inflação contínua recém disciplinada pelo Conselho Monetário Nacional.

A meta segue em 3%. Porém, a meta contínua poderá abrir espaço a uma política monetária menos restritiva que a atual e que persegue resultado num calendário fixo – de janeiro a dezembro. Padrão vigente desde 1999.

A meta contínua estará em vigor em 1º de janeiro, quando terá início o mandato do próximo presidente do BC e diretoria com sete, de nove membros, indicados por Lula. A ver, se a composição trará mais conforto ao governo. E de que forma o BC vai zelar por sua credibilidade, porque esse começo de mandato virá cercado de imensa expectativa. Inclusive, porque caberá ao “novo” BC azeitar a meta contínua de inflação e a ela adequar o juro.

Importante: a meta contínua pressupõe descumprimento quando a inflação, em 12 meses, se desviar por seis meses seguidos do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos do alvo, de 3%. A inflação poderá alcançar 4,5% por um período razoável. A novidade ainda não produz reações. Mas o modelo dará ao governo argumento técnico – embora com implicação política – para a prática de juro menor. O mercado poderá espernear, mas não se fazer de desavisado.

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