A Câmara dos Deputados aprovou projeto que altera a lei sancionada em 2012 que criou as cotas raciais para ingresso em universidades federais. Essa lei previa que as cotas para estudantes negros e de escolas públicas deveria ser revisada dez anos depois. Agora, a proposta aprovada na Câmara na quarta-feira 9 será enviada ao Senado.

De autoria da deputada Maria do Rosário (PT-RS) e assinado por outros parlamentares, o projeto prevê um novo mecanismo para o preenchimento das cotas.

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Em vez de os cotistas concorrerem exclusivamente às vagas reservadas para seu subgrupo (pretos, pardos ou indígenas, por exemplo), eles vão disputar as vagas gerais. Se não alcançarem a nota para passar, então a pontuação será usada para concorrer às vagas reservadas a seu subgrupo, dentro da cota global de 50%.

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Outra mudança é a inclusão dos quilombolas entre os cotistas. O texto também diminui de um salário mínimo e meio para um salário mínimo a renda per capita familiar máxima do estudante que pretende ingressar pelas cotas reservadas a quem cursou integralmente o ensino médio em escolas públicas.

No projeto original, Maria do Rosário defendeu a política de cotas como permanente, ao considerar “as nefastas consequências da escravidão, do racismo estrutural”.

O projeto foi aprovado na forma de substitutivo da relatora, deputada Dandara Tonantzin (PT-MG), e prevê que o sistema de cotas continue a ser avaliado a cada dez anos.

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“Em todo o caso, o objetivo fundamental dessa lei é evitar retrocessos. A Lei 12.711/2012, quando aprovada, estabeleceu sua revisão após dez anos de sua publicação. Apesar do sucesso apresentado pela lei em tornar diverso e plural o ingresso nas instituições federais de ensino, ainda não é chegado o momento de revisar-se a lei no período inicialmente previsto. Assim, considerando as nefastas consequências da escravidão, do racismo estrutural em nosso país, é preciso tornar permanente a reserva de vagas nas instituições mencionadas”, justificou a parlamentar.

Oposição critica cotas raciais nas universidades

helio lopes
Deputado Hélio Lopes votou contra as cotas raciais | Foto: Divulgação/Agência Brasil

A oposição votou contra o projeto. O deputado Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição, afirmou que as cotas raciais nunca deram certo e ampliam a divisão entre grupos étnicos.

“A intenção não é privilegiar os mais pobres, mas promover a equiparação de brancos e negros nos espaços públicos”, disse Jordy. “Isso é um verdadeiro absurdo. Ou não temos brancos que nascem em favela? Ou negros que nascem em berço de ouro?”

O deputado Helio Lopes (PL-RJ) também afirmou que as cotas ampliam a divisão da sociedade. “A pobreza não tem cor, a cota tem que ser pela vulnerabilidade”, declarou ele. “Meus filhos são negros e têm que concorrer com igualdade.”

O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) criticou a proposta e afirmou que há “tribunais raciais” que avaliam os candidatos nas universidades. “Eu vou votar contra essa proposta porque ela é um equívoco.”

Já o deputado Kim Kataguiri (União-SP) afirmou que as cotas precisam olhar para a condição social do aluno. “A cota não soluciona o problema”, disse o parlamentar. Ele defendeu o investimento em medidas de combate à evasão escolar. “O aluno de baixa renda não tem acesso às cotas porque ele não termina o ensino médio, ele sai porque precisa trabalhar.”

Marcel van Hattem e Kim Kataguiri citaram estudos norte-americanos que criticam a adoção de ações afirmativas. Recentemente, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu pela inconstitucionalidade das cotas raciais.

Kim Kataguiri
Deputado Kim Kataguiri | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Na Câmara, tramita pelo menos uma proposta que estabelece o fim das cotas raciais para ingresso nas universidades federais. O Projeto de Lei 4125/21, de autoria de Kataguiri, prevê que as cotas serão destinadas exclusivamente aos estudantes de baixa renda.

A proposta altera a Lei de Cotas para proibir a “discriminação positiva para o ingresso nas instituições de ensino com base em cor, raça ou origem”. O projeto tramita nas comissões e não tem data para ir à votação.

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R7

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