A Allievo Capital é uma casa jovem dentro do mercado de private equity brasileiro com cinco anos de existência e com cerca de R$ 300 milhões sob gestão. Agora, a gestora quer crescer em uma estratégia de investimento que vem ganhando cada vez mais tração no País, os chamados search funds.

A gestora iniciou a captação de um fundo de fundos (FoF, na sigla em inglês) para essa tese com o objetivo de levantar até R$ 200 milhões para aproveitar o crescimento dessa estratégia dentro do País.

“Estamos estudando e acompanhando a indústria de search funds desde a nossa fundação”, diz Matheus Baldi, cofundador da Allievo Capital, ao NeoFeed. “E. agora que a estratégia está madura, estamos prontos para escalar.”

Os investimentos seguirão a receita tradicional dos search funds. A Allievo pretende encontrar profissionais, muitos deles saídos de universidades de primeira linha do mundo, que estejam em busca de uma companhia para empreender via aquisição.

Escolhidos os empreendedores, conhecidos nesse formato de investimentos como searchers, a Allievo em conjunto com outros investidores vão fornecer recursos, o chamado search capital. São cheques entre US$ 400 mil e US$ 900 mil para que os empreendedores busquem um ativo para ser comprado dentro de um prazo de cerca de dois anos.

Esse montante inicial serve para financiar o salário do searcher durante a busca, seus gastos com estruturação da empresa, equipe para ajudá-lo em sua missão e custos referente a esse processo, como gastos com viagem e diligências. Em contrapartida, o investimento inicial garante aos investidores o direito de investir no momento da aquisição (acquisition capital).

Após o ativo ser encontrado, a gestora decidirá se vai ou não seguir adiante, analisando a companhia alvo. Se decidir seguir em frente, a estratégia da Allievo é de realizar um aporte de cerca de R$ 10 milhões, contribuindo para a aquisição do investimento e detendo uma participação minoritária.

Os recursos levantados pela Allievo através do FoF servirão para financiar todos esses passos do processo, comprando cotas dos search funds criados por esses empreendedores. A ideia é financiar entre 35 e 50 searchers na primeira fase para investir em 12 a 17 das empresas encontradas por esses empreendedores. O mandato do fundo também prevê exposição internacional, mas o foco é o Brasil.

O veículo que está sendo levantado nasce ancorado pela base atual de investidores da Allievo. A gestora já assinou dois commitments no último mês com searchers e pretende alocar os recursos do fundo entre quatro e cinco anos.

Para tocar a estratégia, a Allievo trouxe, em janeiro deste ano, André Dionysio, que fez parte da equipe de M&A da Voke, empresa de aluguel de equipamentos que foi adquirida por um search fund investido pela Spectra, gestora de ativos alternativos com aproximadamente R$ 7 bilhões sob gestão e que tem se destacado nesse segmento.

Segundo Guilherme Queiroz, cofundador da Allievo, o fato da casa ter um fundo dedicado exclusivamente a search funds é um diferencial em relação a outros nomes no mercado que atuam com essa tese, mas que também contam com outras estratégias.

“Entendemos que tem um mercado que não acessa esses fundos e que pode acessar o nosso, por poder fazer uma alocação individual nesse tipo de investimento”, diz Queiroz.

Ele destaca que o search fund é um bom formato para investir em empresas do chamado pequeno e médio porte, uma vez que possui alguns mitigantes de risco, exigindo que a empresa tenha receita recorrente, margens elevadas e não esteja muito alavancada. “Existe uma estrutura na aquisição que ajusta o risco que se quer tomar”, afirma Queiroz.

A Allievo já tem experiência com a estratégia de search fund, tendo feito dois investimentos dessa forma. Uma delas foi na Colortel, de locação de equipamentos de refrigeração para empresas, e a outra foi a Tátil Design, empresa de design voltada para branding.

O modelo de search funds vem ganhando tração no País. Segundo um levantamento feito pela própria Allievo, a quantidade acumulada desses tipos de fundos plenamente financiados atingiu 43 em 2024, até o começo de abril. No ano passado, eram 39.

Além da Allievo, a Spectra tem aumentado sua exposição a search funds, área em que já fez 13 investimentos e tem 27 “searchers” buscando um ativo para comprar. Outro nome que está investido nessa modalidade é a KVIV Ventures, de Raphael Klein, neto do fundador da Casas Bahia.

Pés no chão

A estratégia de search funds é a terceira tese de investimento da Allievo, junto com venture capital e growth equity. A casa foi fundada em 2019, quando Queiroz e Baldi se conheceram durante um programa de intercâmbio em Harvard para gestores.

Matheus Baldi e Guilherme Queiroz, cofundadores da Allievo
Matheus Baldi e Guilherme Queiroz, cofundadores da Allievo

Ambos possuem background distintos. Baldi atuou na indústria e trabalhou na empresa de embalagens de joias e relógios da família, a Estojos Baldi. Queiroz, por sua vez, tem quase 15 anos de experiência no mercado financeiro, passando por private equity, real estate e em family offices, além de Tishman Speyer e a Starwood Capital Group.

Durante o programa, ambos começaram a se aproximar, trocar experiências e olhar negócios juntos, observando que as experiências passadas eram complementares. Foi quando decidiram criar a Allievo, para atuar em mercados privados. “Unir forças ficou muito óbvio e o que a gente entendia de investimentos, o ambiente que gostaríamos de estar, do private equity, foi um caminho claro para nós”, diz Baldi.

Eles começaram a analisar alguns negócios e captar para fazer investimentos, recorrendo a club deals, algo que permanece até hoje. Essa decisão, segundo Queiroz, se deve a uma visão de que o investidor poderia preferir o risco de um ativo stand alone do que de um portfólio.

Um dos primeiros investimentos relevantes da Allievo foi na Mottu, startup de aluguel de motos e serviços logísticos, em 2020. Por meio de um club deal, a gestora levantou capital, não revelado pelos sócios, para adquirir uma participação minoritária na empresa, durante a rodada seed, que levantou US$ 2 milhões a um valuation de US$ 17 milhões em 2020.

Desde então, a Allievo investiu em 23 empresas, como a lawtech Turivius, a startup de processamento de notas fiscais V360, a plataforma online para o mercado publicitário Winnin e a plataforma de residência médica Medway.

A Allievo tem como aspiração entregar o equivalente a 40% de taxa interna de retorno (TIR) ao ano bruto, ajustada ao risco. “Hoje, se considerarmos todos os investimentos que fizemos, ponderados pelo tempo, e trazer a valor de mercado, baseado nas últimas rodadas de investimentos, temos gerado 40% de retorno ao ano no papel”, diz Queiroz.

A estrutura de search funds casa bem com a filosofia de investimento da casa. Queiroz diz que a Allievo não foca em temas quando vai investir, mas sim em combinar crescimento com valor, dando um “peso desproporcional” para a capacidade financeira das investidas no processo decisório, além de buscar empreendedores “pé no chão”, mas com sonhos grandes.

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