Muito antes de Ryan Routh ser acusado de tentar assassinar Donald Trump, ele já havia tentado se promover como guerreiro voluntário na Legião Internacional da Ucrânia. A unidade foi criada pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky com o objetivo de recrutar ex-soldados ocidentais para defender Kyiv, atraindo milhares de candidatos nos primeiros meses da guerra.

No entanto, nem todos eram soldados experientes. A Legião também atraiu diversos fanfarrões e pessoas em busca de notoriedade. E os recrutadores militares ucranianos rapidamente perceberam que Routh, com um longo histórico criminal, não era material promissor.

Em entrevista posterior ao Financial Times, Routh contou que foi rejeitado para o serviço assim que chegou a um escritório da Legião na fronteira polonesa, logo no início da guerra. Segundo ele, os recrutadores disseram: “Você tem 56 anos, é velho e não tem experiência. Por que não recruta e coordena em vez disso?”

Routh, no entanto, continuou sua jornada até Kyiv, onde se tornou uma figura familiar – ainda que não muito bem-vinda – à margem da Legião. Muitos outros oportunistas estavam em Kyiv naquela época, aproveitando a guerra para se passar por homens de ação internacional, alegando ter contatos de alto nível no Pentágono ou na CIA.

Os legionários regulares tentavam evitá-los ao máximo, referindo-se a eles como “Guerreiros de Call of Duty”, “Volun-turistas” ou “Gritadores” – uma referência à reação dessas pessoas quando eram realmente atacadas. Mas nada impedia que se autopromovessem nas redes sociais, como Routh fazia frequentemente, alegando ser um recrutador ativo para a Legião.

Routh causou problemas particularmente ao tentar recrutar soldados voluntários do Afeganistão e da Síria, que dificilmente seriam admitidos na Ucrânia devido a preocupações de segurança. “Ele nunca esteve na Ucrânia em qualquer capacidade oficial – simplesmente decidiu que viria aqui para salvar o dia por conta própria,” disse uma fonte militar ucraniana ao The Telegraph.

Um ex-oficial da Legião disse ao The Telegraph: “Ele foi repreendido várias vezes pelo pessoal da Legião e foi pedido que parasse com suas palhaçadas, mas isso não parecia detê-lo. Ele era principalmente excêntrico. Eu podia sentir de longe que ele estava cheio de mentiras.”

De acordo com as fontes, devido ao “caos” nos primeiros meses da invasão, era fácil para estrangeiros oportunistas fazerem falsas alegações de que atuavam em capacidade oficial. Embora Routh provavelmente tivesse “boas intenções”, ele causou problemas de segurança ao postar detalhes em seu site sobre estrangeiros que se alistaram.

Routh também se tornou uma presença constante na Praça da Independência em Kyiv, onde montou seu próprio memorial improvisado para os mortos na guerra da Ucrânia. Ele distribuía panfletos oferecendo US$ 1.200 para quem pegasse em armas contra a Rússia. Eventualmente, sua presença irritou as autoridades ucranianas, que ordenaram a remoção do memorial.

A Legião estava à beira de pedir a sua expulsão completa da Ucrânia quando ele decidiu deixar o país por conta própria.

Agora que Trump – conhecido por sua falta de apoio a Kyiv na guerra – pode voltar à Casa Branca, fontes da Legião ressaltaram que não aprovam de forma alguma o subsequente plano de assassinato de Routh. Um deles afirmou: “Independentemente de alinhamentos políticos, nós nunca aprovaríamos isso.”

Contudo, esse pode não ser o único problema deixado por Routh para Kyiv. Depois que seu memorial improvisado foi removido, ele iniciou um “Jardim das Bandeiras dos Caídos” nas proximidades, onde pequenas bandeiras de papel são plantadas em homenagem aos ucranianos mortos na guerra. O jardim agora abriga milhares de bandeiras e se tornou um marco na Praça da Independência.

Por mais que as autoridades de Kyiv possam não querer removê-lo, também podem não querer preservar algo iniciado por um homem que tentou assassinar Trump, especialmente se o ex-presidente visitar Kyiv no próximo ano.

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Fonte:
Paulo Figueiredo

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