A idosa Pat Bennett, de 68 anos, andava a cavalo, corria diariamente e trabalhava com recursos humanos, até que foi diagnosticada com ELA (esclerose lateral amiotrófica), doença neurodegenarativa que roubou a sua capacidade de falar, em 2012.


Um ensaio clínico da Universidade de Stanford, no entanto, está mudando esse cenário graças a quatro sensores do tamanho de uma aspirina para bebês, implantados no cérebro de Bennet. 



Os chips ajudaram a mulher a comunicar seus pensamentos diretamente de sua mente para um monitor de computador a uma velocidade recorde de 62 palavras por minuto — mais de três vezes mais rápido do que o melhor da tecnologia anterior —, o que deixou cientistas cognitivos e pesquisadores médicos impressionados. 


Um deles, o professor Philip Sabes, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, que estuda interfaces cérebro-máquina e foi cofundador da startup Neuralink, de Elon Musk, descreveu o novo estudo como um “grande avanço”.


“O desempenho neste artigo já está num nível que muitas pessoas que não conseguem falar desejariam, se o dispositivo estivesse pronto”, disse Sabes ao MIT Technology Review, no início deste ano. “As pessoas vão querer isso.” 


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A notícia chega poucos meses depois de a FDA (Food and Drug Administration) — órgão governamental dos EUA responsável pela proteção e pela promoção da saúde pública — ter concedido a aprovação à Neuralink, de Musk, com permissão à empresa para iniciar testes em humanos para a própria tecnologia concorrente de implante de chips cerebrais.


Os resultados de Stanford também seguem os esforços da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para desenvolver propostas sobre como regular a tecnologia de chips cerebrais, pois se teme que possa ser utilizada abusivamente para “neurovigilância” ou mesmo “reeducação forçada”, ameaçando direitos humanos em todo o mundo.



Para Bennett, no entanto, esta investigação emergente tem estado mais próxima do ato milagroso do que da distopia, segundo o tabloide Daily Mail. Desde 2012, a idosa luta contra a ELA, a mesma doença que tirou a vida do parceiro de Sandra Bullock, Bryan Randall, no início de agosto, e do famoso físico Stephen Hawking, em 2018.


Decodificação de palavras


Ao longo de 26 sessões, cada uma com duração de cerca de quatro horas, Bennett trabalhou com um algoritmo de inteligência artificial, ajudando a treinar a IA para identificar qual atividade cerebral corresponde a 39 fonemas ou sons principais usados no inglês falado.


Através da tecnologia de sensores cerebrais, que os pesquisadores de Stanford chamam de interface intracortical cérebro-computador (iBCI, na sigla em inglês), Bennett tentaria comunicar efetivamente cerca de 260 a 480 frases por sessão de treinamento para a IA.


As frases casuais incluíam exemplos como “Saí bem no meio” e “Só tem sido assim nos últimos cinco anos”.


Durante sessões em que as opções de frases foram limitadas a um vocabulário de 50 palavras, Bennett e a equipe de Stanford que trabalhava com ela conseguiram reduzir a taxa de erro do tradutor de IA para 9,1%.


Quando o limite de vocabulário foi expandido para 125 mil palavras, mais próximo do número total de palavras em inglês de uso comum, a IA de fala pretendida do iCBI teve um aumento nos erros de tradução. A taxa subiu para 23,8%.


Embora essa taxa de erro deixe a desejar, os pesquisadores acreditam que as melhorias poderiam continuar com mais treinamento e uma interface mais ampla, ou seja, mais implantes, para interação entre o cérebro e a IA do iBCI.


A velocidade de decodificação de pensamentos em fala do algoritmo já superou a de todos os modelos anteriores três vezes.


O iBCI do grupo Stanford foi capaz de avançar a 62 palavras por minuto, 3,4 vezes mais rápido que o recordista anterior e mais próximo do que nunca da taxa natural da conversa humana, 160 palavras por minuto.


“Mostramos que é possível decodificar a fala pretendida ao gravar a atividade de uma área muito pequena na superfície do cérebro”, de acordo com a dra. Jaimie Henderson, a cirurgiã que realizou a delicada instalação dos eletrodos iBCI na superfície do cérebro de Bennett.


A própria idosa testemunhou sua experiência com os resultados inovadores, escrevendo por email que: “Esses resultados iniciais comprovaram o conceito, e, eventualmente, a tecnologia o alcançará para torná-lo facilmente acessível para pessoas que não conseguem falar”. 


“Para aqueles que não são verbais, isso significa que podem permanecer conectados com o mundo maior”, completou Bennett. “Talvez continuar a trabalhar, manter amigos e relacionamentos familiares.”


A esclerose lateral amiotrófica ataca os neurônios do sistema nervoso central do corpo que controlam o movimento, mas a experiência da mulher com a doença foi uma variedade particularmente rara da doença.


“Quando você pensa em ELA, você pensa no impacto nos braços e nas pernas”, disse Bennett. “Mas, num grupo de pacientes com ELA, começa com dificuldades de fala. Não consigo falar.”


*Sob a supervisão de Giovanna Borielo


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R7

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