Fumante desde os 8 anos de idade, Elcina da Silva Soares, 75 anos, descobriu um tumor no pulmão em fevereiro deste ano. Foram 67 anos fumando ininterruptamente até receber o diagnóstico de câncer de pulmão e decidir que nunca mais tocaria em um cigarro.

Nascida em Orizona, cidade a 137 km de Goiânia (GO), Elcina conta que fumava para afastar o medo. Quando criança, ela e o irmão mais novo iam ainda de madrugada para a plantação de arroz da família para garantir que os pássaros não comeriam a colheita.

“A gente acordava para cuidar da plantação, se não os passarinhos comiam tudo. Nós ficávamos com medo de ficar naquele lugar e fazíamos fogo, um lanchinho, fumávamos. Naquela época, era fumo de rolo”, recorda.

Desde então, o cigarro está presente em sua vida. Já adulta, Elcina fumava aproximadamente uma carteira de cigarros por dia. “No fim de semana, quando eu bebia, fumava três, quatro, até mais carteiras porque quando a gente está bebendo, é acendendo um cigarro no toco do outro”, lembra.

“Tive muita vontade de parar, mas o cigarro fazia parte da minha vida. Era triste, às vezes até toco de cigarro eu pegava das pessoas para fumar. Não tem coisa pior do que o vício”, afirma.

Foto de mulher diagnosticada com câncer de pulmão segurando buquê de flores brancas em frente a espelho - Metrópoles
Elcina da Silva Soares descobriu o câncer no pulmão em fevereiro deste ano. Desde então ela optou por largar o cigarro

Tabagismo e câncer de pulmão

O cigarro está associado a 90% dos casos de câncer de pulmão em todo o mundo. Ele também é considerado um fator de risco importante para doenças como o câncer de laringe, traqueia, faringe, tumores de cabeça e pescoço, enfisema pulmonar, bronquite crônica e demais problemas que afetam as vias aéreas superiores.

“Quando o paciente fuma por muito tempo, os cílios do pulmão vão endurecendo e perdem a função de filtragem”, explica a pneumologista Gilda Elizabeth, do Hospital Brasília Unidade Águas Claras.

De acordo com a médica, o tabagismo na infância traz riscos adicionais, uma vez que ele pode levar à inflamação dos brônquios, tornando a criança mais suscetível a infecções virais e pneumonias. “Ela fica com o sistema imunológico mais comprometido”, afirma a pneumologista.

Na maioria dos casos, os sintomas acabam sendo silenciosos até que o quadro já esteja avançado. Para Elcina, foi uma febre causada pela infecção do coronavírus em fevereiro deste ano que fez os médicos descobrirem a doença. Uma tomografia dos pulmões mostrou a presença de uma massa que obstruía parte do brônquio.

“Todos os médicos me disseram que se eu não tivesse tido Covid-19, morreria de câncer sem saber porque não senti nada. Um deles me disse ‘dona Elcina, a senhora teve a Covid-19 para te avisar do câncer de pulmão’”, lembra.


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Tratamento e recuperação do câncer

Dona Elcina passou por uma cirurgia em abril para a retirada do tumor, seguida por três sessões de quimioterapia, a última realizada este mês.

A pneumologista Gilda Elizabeth vê o prognóstico da paciente com otimismo. “Mesmo com tanto tempo de tabagismo, a lesão era ressecável e ela ainda parou de fumar. Quando o paciente larga o cigarro, os sinais vitais, a pressão arterial, frequência cardíaca, oxigenação e inflamação nos brônquios melhoram”, afirma a médica.

A aposentada se recupera bem. Ela passará por novos exames esta semana para avaliação dos pulmões e garante que não quer mais saber de cigarro.

“Depois do diagnóstico, nunca mais fumei. O fumo não presta. É um vício horrível. Se pudesse voltar no tempo 60 anos, voltava para ter o meu pulmão limpinho, mas infelizmente não dá”, conta.

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Por Metrópoles

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