Pessoas que tomam medicamentos para refluxo ou gastrite, conhecidos como IBP (inibidores de bomba de prótons), por mais de quatro anos e meio podem ter um risco maior de desenvolver demência em comparação com aquelas que não tomam esses medicamentos, sugere um novo estudo publicado nesta quarta-feira (9) na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia.


Essa classe de remédios inclui omeprazol, pantoprazol, lanzoprazol, rabeprazol, esomeprazol e tenatoprazol. Eles reduzem a produção de ácido estomacal ao direcionar enzimas da mucosa gástrica.



O estudo, conduzido pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Minnesota, nos EUA, envolveu a análise de dados de 5.712 pessoas com idade a partir de 45 anos, que não tinham demência no início da pesquisa e apresentavam uma média de idade de 75 anos.


Os pesquisadores avaliaram o uso de IBP em cada participante e revisaram suas medicações durante visitas de estudo e ligações telefônicas anuais.


Os participantes foram divididos em quatro grupos, com base no uso dos medicamentos e na duração desse uso: aqueles que não tomaram os medicamentos; aqueles que os tomaram por até 2,8 anos; aqueles que os tomaram por 2,8 a 4,4 anos; e aqueles que os tomaram por mais de 4,4 anos.


Durante um período médio de acompanhamento de 5,5 anos, 585 pessoas, ou 10% do grupo, desenvolveram demência.


Foram analisados os dados, com ajuste de fatores como idade, sexo, raça, pressão arterial elevada e diabetes. Os cientistas descobriram que as pessoas que tomaram medicamentos para refluxo ácido por mais de 4,4 anos tiveram um risco 33% maior de desenvolver demência em comparação com aquelas que nunca tomaram esses medicamentos.


“Os inibidores de bomba de prótons são uma ferramenta útil para controlar o refluxo ácido, no entanto, o uso a longo prazo tem sido associado, em estudos anteriores, a um maior risco de derrame, fraturas ósseas e doença renal crônica. […] Ainda assim, algumas pessoas tomam esses medicamentos regularmente. Então, examinamos se eles estão relacionados a um maior risco de demência. Embora não tenhamos encontrado uma ligação com o uso a curto prazo, encontramos um maior risco de demência associado ao uso prolongado desses medicamentos”, comentou a autora do estudo, Kamakshi Lakshminarayan.


O trabalho não prova que os chamados “prazois” causam demência, mas apenas estabelece uma associação.


Todavia, o tema é controverso no próprio meio acadêmico.


Uma meta-análise — combinação e síntese dos resultados de múltiplos estudos independentes — publicada no European Journal of Clinical Pharmacology, em 2020, com dados de 166,1 mil indivíduos mostrou um significativo aumento do risco de demência com o uso de remédios dessa categoria.


Análises adicionais mostraram uma associação significativa entre o uso de inibidores da bomba de prótons e o risco de demência na Europa e entre os participantes com idade igual ou superior a 65 anos. Os autores defenderam a realização de mais estudos de coorte de alta qualidade para confirmar esses achados.


Por outro lado, outras duas meta-análises recentes sugeriram o oposto.


Em uma delas, publicada no The American Journal of Gastroenterology, em 2020, pesquisadores concluíram que não há “evidências para apoiar a associação proposta entre o uso de IBP e um risco aumentado de demência. O uso de IBP entre pacientes com indicação válida para ele não deve ser interrompido devido a preocupações com o risco de demência”.


O resultado foi obtido após a análise de 11 estudos observacionais cque compreenderam 642,9 mil indivíduos.


Outra meta-análise, disponível na revista PLOS ONE, concluiu, em 2019, que “a evidência atual revela que o uso de IBP não aumenta o risco de demência e DA [doença de Alzheimer]”, com base em estudos que envolviam 642,3 mil pessoas.


Nos estudos que relacionam a demência ao uso de IBP, duas razões são apontadas. Uma delas é a potencial deficiência de vitamina B12, uma vez que a redução do ácido gástrico afeta a absorção desse nutriente no intestino delgado.


Especialistas também investigam se essa classe de remédios teria alguma relação com o aumento da deposição de beta-amiloide no cérebro, proteína que é associada à doença de Alzheimer.


No entanto, os mecanismos potenciais para as associações entre o uso de IBP e danos cognitivos ainda não são totalmente compreendidos e requerem uma investigação mais aprofundada.


Dessa forma, se você tem indicação médica para o uso de algum dos “prazois”, não existem evidências definitivas até este momento que justifiquem a interrupção do tratamento. 


Microbiota intestinal pode ser um escudo contra doenças; saiba como mantê-la saudável


source
R7

Ouça a Rádio Piranhas FMRádio Piranhas FM pelo RadiosNet. #OuvirRadio